Os cinco bispos das dioceses do estado do
Tocantins publicaram, no último dia 15 de julho, uma nota com orientações sobre
as eleições municipais deste ano. No documento, os bispos partem da constatação
de que existe “uma profunda indignação do povo diante da falta de ética na
política, especialmente, da corrupção que agrava a miséria de tantas pessoas”.
Entretanto, tomando o voto como “um dos mais
importantes atos de cidadania para as transformações sociais nos municípios e
no país”, os bispos orientam os eleitores ao voto consciente. Já aos
candidatos, afirmam que mais importante que as promessas feitas na campanha,
está o compromisso com as causas e os anseios do povo.
A seguir, publicamos a íntegra da nota, que traz critérios para eleitores e candidatos, a partir da realidade do estado do Tocantins.
A seguir, publicamos a íntegra da nota, que traz critérios para eleitores e candidatos, a partir da realidade do estado do Tocantins.
ELEIÇÕES 2012 - NOTA DOS
BISPOS DO TOCANTINS
“Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus!” (Mt 22,21)
“Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus!” (Mt 22,21)
Nós, Bispos da Igreja Católica, no Estado do
Tocantins, dirigimo-nos às comunidades eclesiais, aos eleitores, aos candidatos
a prefeitos e a vereadores, e a todas as pessoas de boa vontade, com o que
segue:
Estamos nos aproximando das eleições municipais,
marcadas para o dia sete de outubro deste ano. Um tempo particularmente propício
para a participação consciente e responsável de todos na vida política, seja
como eleitor, seja como candidato, fazendo valer o slogan: “voto não tem preço,
tem consequência!”.
A Igreja tem como missão, recebida de Jesus
Cristo, iluminar a consciência das pessoas com a luz do Evangelho e dos valores
do Reino de Deus, motivando-as ao exercício da plena cidadania. Neste sentido,
o papa Bento XVI disse que “a política é mais do que uma simples técnica para a
definição dos ordenamentos públicos: a sua origem e o seu objetivo estão
precisamente na justiça, e esta é de natureza ética”. E ainda mais: “a Igreja
não pode nem deve tomar nas suas próprias mãos a batalha política para realizar
a sociedade mais justa possível. Mas também não pode nem deve ficar à margem na
luta pela justiça” (Cf. Deus Caritas Est, 28).
A política, enquanto serviço para a construção, a
garantia e o aprimoramento da cidadania, deve ser praticada como busca sincera
do bem-comum, de modo a promover os direitos dos cidadãos, a começar do âmbito
municipal, e não segundo os interesses particulares de candidatos, de
indivíduos ou de grupos.
Constatamos uma profunda indignação do povo
diante da falta de ética na política, especialmente, da corrupção que agrava a
miséria de tantas pessoas. Em meio ao desinteresse de muitos pela política se
faz necessário retomar e fortalecer o compromisso social dos cristãos, enquanto
cidadãos, procurando conhecer os candidatos para votar bem nas eleições e
depois, acompanhar e fiscalizar o desempenho dos eleitos, prefeitos e
vereadores.
O exercício do voto é um dos mais importantes
atos de cidadania para as transformações sociais nos municípios e no país. O
eleitor consciente, sujeito ativo de mudanças na construção de uma nova
sociedade, vota com as mãos, o coração e a cabeça. E isso só é possível quando
ele se sentir corresponsável pelo bem comum e se comprometer a dar a sua
contribuição para concretizá-lo. No momento do voto, o eleitor não de põe seus
direitos nas mãos do candidato, mas o nomeia como seu representante, não
somente porque o escolhe para defender os valores, nos quais acredita, mas
porque antes da eleição procura conhecer o seu programa de governo e depois o
acompanha, tanto para dar o seu apoio como para cobrar o cumprimento das
promessas de campanha.
O bom candidato, independentemente do seu poder
econômico, não é aquele que promete mais; é, ao contrário, aquele que é
comprometido com as causas e os anseios do povo, sobretudo dos mais pobres; é
aquele que não governa para os seus próprios interesses; é aquele que não vive
trocando de partido, conforme sua conveniência, geralmente para o partido que
está no poder.
“As eleições municipais, como as deste ano, tem
características próprias em relação às demais por colocar em disputa os
projetos que discutem sobre os problemas mais próximos do povo: educação,
saúde, segurança, trabalho, transporte, moradia, ecologia, lazer. Isso torna
ainda mais importante a missão de votar bem, ficando claro para o eleitor que
seu voto, embora seja gesto pessoal e intransferível, tem conseqüências para a
vida do povo e para o futuro do País.
As eleições são, portanto, momento propício para
que se invista, coletivamente, na construção da cidadania, solidificando a
cultura da participação e os valores que definem o perfil ideal dos candidatos.
Estes devem ter seu histórico de coerência de vida e discurso político
referendados pela honestidade, competência, transparência e vontade de servir
ao bem comum. Os valores éticos devem ser o farol a orientar os eleitos, em
contínuo diálogo entre o poder local e suas comunidades” (cf. Mensagem da CNBB
sobre as eleições municipais de 2012).
No caso concreto do Estado do Tocantins,
destacamos como critérios para a votação, os seguintes: o comportamento ético
dos candidatos; a defesa da vida, da família, da educação e da saúde, de todos,
principalmente dos pobres e das comunidades tradicionais: indígenas e
quilombolas. As qualidades imprescindíveis de um bom candidato são a
honestidade, a competência, a transparência e a vontade de servir ao bem comum,
comprovadas por seu histórico de vida.
Independentemente do perfil do candidato, a
Igreja do Tocantins não emprestará sua voz, nem servirá de palanque eleitoral
para nenhum candidato, pensando em ser beneficiada posteriormente e atendida nas
suas solicitações. Seu compromisso primeiro é a favor da ética na política, a
defesa da Lei da Ficha Limpa, contra a corrupção eleitoral, a compra de votos e
o poder econômico de candidatos e partidos e a compra de votos.
Afirmamos, igualmente, com base nos vários
Documentos, que a missão da Igreja é evangelizadora e de natureza eminentemente
pastoral. Por isso “ela não concorda com a militância político-partidária de
membros do clero ou de religiosos” (CNBB, Doc. 22,5; Puebla 524), por duas
razões principais: primeiro, porque “o vasto e complexo mundo da política, da
realidade social e da economia é campo próprio dos leigos” (Evangelii Nuntiandi
70); segundo, porque “a missão do presbítero tem algo de específico, na sua
configuração do Cristo Pastor, que não se coaduna com a partidarização
política” (CNBB, Doc. 75, 41). Mais explicito ainda é o Código de Direito
Canônico: “os clérigos são
proibidos de assumir cargos públicos que implicam participação no exercício do poder civil” (CIC, c. 285 § 3° e c. 287 § 2°).
proibidos de assumir cargos públicos que implicam participação no exercício do poder civil” (CIC, c. 285 § 3° e c. 287 § 2°).
Portanto, com base nestes textos pastorais e
legislativos, membros do clero do Tocantins que se candidatarem a cargos
eletivos, deixarão os seus ofícios eclesiásticos e estarão sujeitos, durante a
campanha eleitoral e o exercício de eventual mandato, a restrições e a
suspensão do uso de ordem. Aos outros padres recomendamos que não subam em
palanques, nem façam campanhas e nem propagandas partidárias para candidatos a
cargos eletivos.
Apesar da Sagrada Ordenação nunca se tornar nula,
quando algum padre é suspenso do uso de ordem, deve deixar de usar o título de
“padre” ou “frei”, seja durante a campanha eleitoral ou no exercício de cargo
eletivo.
Os leigos, membros de conselhos pastorais
animadores de comunidade, ministros extraordinários, coordenadores de pastoral
e de outras instâncias pastorais, ao se candidatarem a um mandato político,
recomendamos o afastamento de suas funções durante o período eleitoral.
Por fim, incentivamos o empenho de todos na
aplicação da Lei 9.840, de combate à corrupção eleitoral, bem como da Lei da
Ficha Limpa, que proíbe a candidatura de quem já foi condenado, em primeira
instância, por um colegiado, ou que tenha renunciado a seu mandato para escapar
de punições.
Deus abençoe e ilumine a todos, eleitores e
candidatos, nas eleições municipais deste ano, para o bem do povo tocantinense
e de todo o Brasil!
Palmas - TO, 15 de julho de 2012.
Dom Pedro Brito Guimarães
Arcebispo de Palmas
Arcebispo de Palmas
Dom Rodolfo Luís Weber
Bispo Prelado de Cristalândia
Bispo Prelado de Cristalândia
Dom Giovane Pereira de Melo
Bispo de Tocantinópolis
Bispo de Tocantinópolis
Dom Romualdo Matias Kujawski
Bispo de Porto Nacional
Bispo de Porto Nacional
Dom Phillip Eduard Roger
Dickmans
Bispo de Miracema do Tocantins
Bispo de Miracema do Tocantins
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