PARTICIPAÇÃO NO TRIBUNAL DO JÚRI - ESTAGIÁRIO DA PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE PAU DOS FERROS/RN-

PARTICIPAÇÃO NO TRIBUNAL DO JÚRI  - ESTAGIÁRIO DA PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE PAU DOS FERROS/RN-
A APROVAÇÃO NA SEGUNDA FASE DA OAB CONSOLIDA UM PROCESSO QUE CULMINARÁ COM A CONCLUSÃO DO CURSO EM 2015 E OPORTUNAMENTE EXERCER O EXECÍCIO DA ADVOCACIA.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

FRANCISCO DE ASSIS E O MOVIMENTO ECOLÓGICO

Neste dia 4 de outubro, lembramos o nascimento de um santo cada vez mais atual: Francisco de Assis, nascido em 1182. Sua contribuição não apenas à Igreja, mas à história em geral é ampla e complexa. E neste ano adquire expressões mais fortes, dentro da celebração do Ano da Biodiversidade, proposto pela ONU, e de campanhas que vão ganhando força no mundo inteiro, como a Campanha 10:10:10. Para as Igrejas, além disso, sua figura é central no que se refere ao cuidado da Criação, como o "Tempo para a Criação" – que encerraria significativamente hoje, à exceção deste ano – busca rememorar. "A grande contribuição de Francisco de Assis para a teologia e a espiritualidade do cuidado ecológico foi sua visão de todas as pessoas e de toda a criação como uma única família. Ele via as criaturas vivas, os elementos naturais e até mesmo a própria morte como seus irmãos e irmãs", afirma o reverendo anglicano inglês Keith D. Innes. E é justamente por isso que o ´poverello´ ainda nos fala. Como explica o teólogo italiano Bruno Forte, arcebispo de Chieti-Vasto, na Itália, "Francisco é verdadeiramente um de nós, bem semelhante a nós na superficialidade da vida e dos sonhos. Todavia, e precisamente por ter vivido esta estação da utopia, impregnada pelas fugas para frente dos desejos e das pretensões, é isso que torna Francisco tão amplamente humano". Essa humanidade de Francisco também nos permite inspirar-nos em sua vida, especialmente neste período histórico marcado pelas chamadas mudanças climáticas. Porém, "´a irmã água, a qual é muito útil e humilde e preciosa e casta!´, cantada por Francisco de Assis, hoje está sequestrada pelas indústrias como Nestlé, Coca-Cola e Suez", reflete a teóloga Nancy Cardoso Pereira, em entrevista à IHU On-Line. "A irmã água, igualada na humildade e castidade de uma virgem, acaba sendo presa fácil dos projetos tempo-dinheiro. A dimensão de utilidade e preciosidade se expressa na forma da água-mercadoria e na privatização do que o capitalismo chama de ´recursos hídricos´ e que os movimentos populares e camponeses insistem em chamar de água: bem comum... sempre irmã!", defende. Por outro lado, como indica o teólogo Guillermo Kerber, do Conselho Mundial de Igrejas – CMI, entrevistado pela IHU On-Line, Francisco de Assis "é uma referência inevitável quanto ao seu radical seguimento de Jesus no serviço aos mais pobres, como reflete o seu encontro com o leproso". E a vida de Francisco como um todo foi reflexo desse seguimento radical. Mesmo em situações mais controversas – como seu encontro com o sultão egípcio, sua suposta proximidade com o catarismo, a radicalidade de sua regra com relação à pobreza, ou ainda em suas biografias e lendas póstumas –, o pensamento e a obra do franciscanismo desempenham hoje um papel determinante na atual passagem da época da modernidade à pós-modernidade, como indica Stefano Zamagni, professor de economia da Universidade de Bolonha e consultor do Pontifício Conselho Justiça e Paz. Porém, em mais uma festividade de sua memória, muito se fala de Francisco. Em homenagem a ele são erguidos monumentos e majestosos prédios, seu nome está nas ruas e até em cidades com o seu nome. Entretanto, como ele mesmo dizia, "os santos fazem as obras, e nós, ao narrá-las, queremos receber honra e glória". Por isso, em nome da Criação que hoje "geme em dores de parto" e de todas as vítimas das mudanças climáticas que sofrem as suas consequências, talvez hoje seja o momento de falar menos sobre Francisco e, ao contrário, como exorta o franciscano espanhol Francisco J. Castro Miramontes, "fazer da própria vida um caminho de encontro com Deus e a bondade", como fez o santo de Assis.

CARTA DE SÃO FRANCISCO AOS GOVERNANTES DOS POVOS

Carta de São Francisco aos governantes dos povos. Quase no final de sua vida, Francisco de Assis escreveu uma carta aberta aos governantes dos povos. Mais de mil franciscanos, vindos do mundo inteiro, reunidos em Brasília em meados de outubro, tentaram reescrevê-la. Dei minha colaboração, proibida pelo bispo local, nestes temos:
“A todos os chefes de Estado e aos portadores de poder neste mundo, eu Frei Francisco de Assis, vosso pequenino e humilde servo, lhes desejo Paz e Bem.
Escrevo-vos esta mensagem com o coração na mão e com os olhos voltados ao alto em forma de súplica.
Ouço, vindo de todos os lados, dois clamores que sobem até ao céu. Um, é o brado da Mãe Terra terrivelmente devastada. E o outro, é a queixa lancinante dos milhões e milhões de nossos irmãos e irmãs, famintos, doentes e excluídos, os seres mais ameaçados da criação.
É um clamor da injustiça ecológica e da injustiça social que implora urgentemente ser escutado.
Meus irmãos e irmãs constituídos em poder: em nome daquele que se anunciou como o “soberano amante da vida”(Sabedoria 11,26) vos suplico: façamos uma aliança global em prol da Terra e da vida.
Temos pouco tempo e falta-nos sabedoria. A roda do aquecimento global do Planeta está girando e não podemos mais pará-la. Mas podemos diminuir-lhe a velocidade e impedir seus efeitos catastróficos.
Não queremos que a nossa Mãe Terra, para salvar outras vidas ameaçadas por nós, se veja obrigada a nos excluir de seu próprio corpo e da comunidade dos viventes.
Por tempo demasiado nos comportamos como um Satã, explorando e devastando os ecossistemas, quando nossa vocação é sermos o Anjo Bom, o Cuidador e o Guardião de tudo o que existe e vive.
Por isso, meus senhores e minhas senhoras, aconselho-vos firmemente que penseis não somente no desenvolvimento sustentável de vossas regiões. Mas que penseis no planeta Terra como um todo, a única Casa Comum que possuímos para morar, para que ela continue a ter vitalidade e integridade e preserve as condições para a nossa existência e para a de toda a comunidade terrenal.
A tecno-ciência que ajudou a destruir, pode nos ajudar a resgatar. E será salvadora se a razão vier acompanhada de sensibilidade, de coração, de compaixão e de reverência.
Advirto-vos, humildemente, meus irmãos e irmãs, que se não fizerdes esta aliança sagrada de cuidado e de irmandade universal deveis prestar contas diante do tribunal da humanidade e enfrentar o Juízo do Senhor da história.
Queremos que nosso tempo seja lembrado como um tempo de responsabilidade coletiva e de cuidado amoroso para com a Mãe Terra e para com toda a vida.
Por fim, irmãos e irmãs, modeladores e modeladoras de nosso futuro comum: recordeis que a Terra não nos pertence. Nós pertencemos a ela pois nos gestou e gerou como filhos e filhas queridos. Custo aceitar que depois de tantos milhões e milhões de anos sobre esse planeta esplendoroso, tenhamos que ser expulsos dele.
Pela iluminação que me vem do Alto, pressinto que não estamos diante de uma tragédia cujo fim é desastroso. Estamos dentro de uma crise que nos acrisolará, nos purificará e nos fará melhores. A vida é chamada à vida. Nascidos do pó das estrelas, o Senhor do universo nos criou para brilharmos e cantarmos a beleza, a majestade e a grandeza da Criação que é o espaço do Espírito e o templo da Santíssima Trindade, do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Se observardes tudo isso que Deus me inspirou para vos comunicar em breves palavras, garanto-vos que a Terra voltará novamente a ser o Jardim do Éden e nós os seus dedicados jardineiros e cuidadores”. Assinado F. de Assis. (Frei Leonardo Boff)