Neste dia 4 de outubro, lembramos o nascimento de um santo cada vez mais atual: Francisco de Assis, nascido em 1182. Sua contribuição não apenas à Igreja, mas à história em geral é ampla e complexa. E neste ano adquire expressões mais fortes, dentro da celebração do Ano da Biodiversidade, proposto pela ONU, e de campanhas que vão ganhando força no mundo inteiro, como a Campanha 10:10:10. Para as Igrejas, além disso, sua figura é central no que se refere ao cuidado da Criação, como o "Tempo para a Criação" – que encerraria significativamente hoje, à exceção deste ano – busca rememorar. "A grande contribuição de Francisco de Assis para a teologia e a espiritualidade do cuidado ecológico foi sua visão de todas as pessoas e de toda a criação como uma única família. Ele via as criaturas vivas, os elementos naturais e até mesmo a própria morte como seus irmãos e irmãs", afirma o reverendo anglicano inglês Keith D. Innes. E é justamente por isso que o ´poverello´ ainda nos fala. Como explica o teólogo italiano Bruno Forte, arcebispo de Chieti-Vasto, na Itália, "Francisco é verdadeiramente um de nós, bem semelhante a nós na superficialidade da vida e dos sonhos. Todavia, e precisamente por ter vivido esta estação da utopia, impregnada pelas fugas para frente dos desejos e das pretensões, é isso que torna Francisco tão amplamente humano". Essa humanidade de Francisco também nos permite inspirar-nos em sua vida, especialmente neste período histórico marcado pelas chamadas mudanças climáticas. Porém, "´a irmã água, a qual é muito útil e humilde e preciosa e casta!´, cantada por Francisco de Assis, hoje está sequestrada pelas indústrias como Nestlé, Coca-Cola e Suez", reflete a teóloga Nancy Cardoso Pereira, em entrevista à IHU On-Line. "A irmã água, igualada na humildade e castidade de uma virgem, acaba sendo presa fácil dos projetos tempo-dinheiro. A dimensão de utilidade e preciosidade se expressa na forma da água-mercadoria e na privatização do que o capitalismo chama de ´recursos hídricos´ e que os movimentos populares e camponeses insistem em chamar de água: bem comum... sempre irmã!", defende. Por outro lado, como indica o teólogo Guillermo Kerber, do Conselho Mundial de Igrejas – CMI, entrevistado pela IHU On-Line, Francisco de Assis "é uma referência inevitável quanto ao seu radical seguimento de Jesus no serviço aos mais pobres, como reflete o seu encontro com o leproso". E a vida de Francisco como um todo foi reflexo desse seguimento radical. Mesmo em situações mais controversas – como seu encontro com o sultão egípcio, sua suposta proximidade com o catarismo, a radicalidade de sua regra com relação à pobreza, ou ainda em suas biografias e lendas póstumas –, o pensamento e a obra do franciscanismo desempenham hoje um papel determinante na atual passagem da época da modernidade à pós-modernidade, como indica Stefano Zamagni, professor de economia da Universidade de Bolonha e consultor do Pontifício Conselho Justiça e Paz. Porém, em mais uma festividade de sua memória, muito se fala de Francisco. Em homenagem a ele são erguidos monumentos e majestosos prédios, seu nome está nas ruas e até em cidades com o seu nome. Entretanto, como ele mesmo dizia, "os santos fazem as obras, e nós, ao narrá-las, queremos receber honra e glória". Por isso, em nome da Criação que hoje "geme em dores de parto" e de todas as vítimas das mudanças climáticas que sofrem as suas consequências, talvez hoje seja o momento de falar menos sobre Francisco e, ao contrário, como exorta o franciscano espanhol Francisco J. Castro Miramontes, "fazer da própria vida um caminho de encontro com Deus e a bondade", como fez o santo de Assis.
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