A
cooperativa oferece ao seu cooperado serviços que lhe permitam evoluir
economicamente. O cooperativismo brasileiro vem crescendo bastante,
impulsionado pelo firme timão da OCB (Organização das Cooperativas
Brasileiras), órgão de cúpula do movimento. Muita gente acha que esse poderoso
instrumento de organização econômica da sociedade seja exclusivamente agrícola,
o que é um engano. Os números são notáveis e mostram como o movimento se
expandiu na área urbana. Há dez anos, o Brasil tinha 5.903 cooperativas, das
quais 1.411 eram rurais, com 831.654 associados. Cerca de 2.067 eram urbanas,
com 2.493.197 associados. No último levantamento da OCB, de dezembro de 2010,
as cooperativas urbanas já eram 2.953, com 3.816.026 associados, e as agrícolas
eram 1.548, com 943.054 associados. As cooperativas urbanas atuam nas
áreas de consumo, educação, habitação, infraestrutura, produção, saúde, transporte,
turismo e especial (para pessoas com deficiência). E, além das rurais e
urbanas, existem as cooperativas de crédito, em número de 1.330, com mais de
5,6 milhões de associados, a grande maioria urbanos, embora a área rural ainda
tenha maior poder econômico. Também as cooperativas de trabalho, 1.024 no
total, são majoritariamente urbanas, com seus 217 mil associados, mas algumas
funcionam no campo também. O número das que são apenas agropecuárias cresceu
35% nestes dez anos, e as exclusivamente urbanas, 42%. Mas o número de
associados destas aumentou 53%, enquanto o das agropecuárias, só 13%. É
claro que a urbanização crescente do Brasil tem muito a ver com isso, mas não é
o único fator responsável.
Uma
cooperativa precisa de três condições básicas para se desenvolver de maneira
positiva:
em
primeiro lugar, precisa ser necessária. Não adianta querer criar uma
cooperativa de qualquer tipo se ela não for sentida, pelos futuros cooperados,
como uma necessidade, capaz de responder às pressões econômicas a que estão
submetidos. Cooperativismo é um movimento de base, tem que crescer de baixo
para cima, não pode ser imposto.
Em
segundo lugar, precisa ser viável economicamente: cooperativa é uma
empresa, com a diferença de que o lucro não é o fim em si; ela é o instrumento
da doutrina cooperativista que objetiva “corrigir o social através do
econômico”. Portanto, a cooperativa oferece ao seu cooperado -de qualquer ramo-
serviços que lhe permitam evoluir economicamente e, por conseguinte, acessar
novos níveis sociais. Mas, mesmo assim, é uma empresa -com seu viés social, é
claro-, tem que ser eficiente e lucrativa. Por isso tudo, criar uma cooperativa
sem nenhum capital é vê-la nascer morta.
E, por
fim, é preciso que haja espírito associativo, com liderança capaz de
conduzir o processo.
Ora, a
rápida urbanização do país trouxe para as cidades demandas estruturais, tendo
em vista melhorar a renda dos cidadãos. Estes se organizaram então em
cooperativas de trabalho, de consumo, de saúde, de educação, de habitação, de
crédito etc., e o movimento ganhou uma dimensão tão espetacular quanto a que
aconteceu em outros países do mundo pelas mesmas razões. Tudo isso foi
potencializado pelo vigoroso processo de globalização da economia que produziu
exclusão social e concentração da riqueza, dois inimigos mortais da democracia
e da paz. Os excluídos se agruparam em cooperativas e com isso também mitigaram
a concentração, transformando-se em bastiões aliados dos governos democráticos
pela sustentação da paz. Aqui e no mundo todo. É bom lembrar que existem
cooperativas em todos os países, e o número total de seus associados é próximo
a 1 bilhão de pessoas. Se cada qual tiver três agregados, são 4 bilhões de
terráqueos ligados direta ou indiretamente ao cooperativismo, constituindo o
mais gigantesco contingente humano em defesa da democracia e da paz universal.
Não é por outra razão que a ONU declarou 2012 como o Ano Internacional das
Cooperativas. E pela mesma razão esse extraordinário movimento bem que merece o
Prêmio Nobel da Paz.
* Artigo
escrito por Roberto Rodrigues, coordenador do Centro de Agronegócio da FGV,
professor do Departamento de Economia Rural da Unesp – Jaboticabal e ex-
ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
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