O cardeal
Angelo Scola, que entrou com 50 votos, exauriu a sua capacidade de chegar aos
77 exigidos: três escrutínios tinham ocorrido. Scola começou a ser torpedeado
pela imprensa, que mostrou a sua proximidade com políticos e com a Liga Norte,
que nasceu separatista da Itália e, hoje, tem o governo da Lombardia, onde
Scola é arcebispo. O purpurado Scola foi dado como amigo do ex-governador
Roberto Formigoni, do partido de Berlusconi. Formigoni está sendo processado
por corrupção pela Justiça de Milão. Scola negou tudo, mas não convenceu nem
aos italianos e nem a muitos dos 115 cardeais votantes.
Dom Odilo
Scherer, formação de diplomata e não de evangelizador, era o candidato da
Cúria. Uma Cúria, como disse Ratzinger, onde havia luta pelo poder e entra no
escândalo do Vatileaks. O chefão Bertone, totalmente queimado, lançou Scherer,
que já trabalhou na chamada Cúria romana, coração da Santa Sé.
Para os vaticanistas
que consulto e o jornal Corriere della Sera, o cardeal brasileiro perdeu
votos ao fazer a defesa do Banco do Vaticano-IOR, onde era um dos cardeais
corregedores-fiscalizadores.
Só para
lembrar, na reunião de segunda-feira passada, o camerlengo Bertone, primeiro
ministro à época de Bento XVI, defendeu as ações da Cúria na gestão do Banco do
Vaticano, fonte permanente de escândalos. Mais de 30 cardeais atacaram Bertone
e o relato feito pelo corregedor Odilo Scherer.
Os que
criticaram lembraram que o Banco do Vaticano (apelidado de Banco do Papa)
ficou, na mão da Cúria e sem responsável legal por nove meses. Tudo isso depois
do afastamento do presidente Gotti Tedeschi, apelidado, pelos vínculos, de
banqueiro do Opus Dei. Tedeschi foi derrubado por tentar acabar com a lavagem
de dinheiro e, também, por querer dar transparência na identificação dos
correntistas (usam no IOR o termo fundo e não conta corrente). Os correntistas
são identificados por números e não pelos nomes.
Nesse
episódio, que resultou em críticas à atuação de Scherer como
corregedor-fiscalizador do IOR, houve uma elogiada frase do cardeal brasileiro
João Braz de Avis: “São Pedro nunca teve um banco”, disse o indignado cardeal
brasileiro.
Muitos cardeais, que desejam a extinção do Banco do Vaticano, lembram o evangelho de Mateus. Isso no alerta de não se poder servir a Deus e ao Dinheiro.
Muitos cardeais, que desejam a extinção do Banco do Vaticano, lembram o evangelho de Mateus. Isso no alerta de não se poder servir a Deus e ao Dinheiro.
Com a
candidatura de Scherer, um antirreformista ligado à Cúria, tinha subido à
cotação, entre os concorrentes latino-americanos, do mexicano Robles Ortega, de
64 anos.
José
Francisco Robles Ortega tem formação de pastor. Ou seja: é um evangelizador.
Não é, frise-se mais uma vez, um diplomata de formação como Scherer. Robles
Ortega, além de devoto da Virgem de Guadalupe, agrada aos italianos por ser
devoto do chamado santo padre Pio.
O cardeal
Scola, que entrou com 50 votos no Conclave, ficou claramente engessado ao não
emplacar depois de três escrutínios. Já se fala no canadense Marc Oullet. Ele,
em 1972, fundou uma revista com Ratzinger e já foi “olheiro”, por designação de
Bento XVI, na seleção de candidatos a cardeal. Fala-se muito que, como papa,
ele seria indicado para conviver harmônica e pacificamente com o papa emérito
Ratzinger. Só para lembar, Ratzinger vai viver no Vaticano, “num puxadinho” que
mandou reformar e dentro dos jardins.
Por fora,
corria Gianafranco Ravasi, biblista e hebraísta. É considerado o homem mais
culto da Igreja e sabe, como ninguém, dialogar com os jovens. Ele, que é
escritor, perde votos por nunca ter sido um evangelizador. É o atual presidente
do Conselho Cultural do Vaticano.
Pano
rápido. Muitos experientes e rodados vaticanistas diziam não estarem mais a
trabalhar com vazamentos. Isso porque os cardeais, suas fontes, estavam
incomunicáveis, quer na Sistina, quer na Casa Santa Marta, onde estão
hospedados. A propósito de fuga de notícia, a punição prevista era a
excomunhão.
Fonte:
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Wálter Maierovitch
Cartacapital.com.br
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